EU NÃO ARDO NAS SOMBRAS, CONSTRUO ALVORADAS!...

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

DE RAMO EM RAMO

Subo por ti de ramo em ramo, não como quem procura o cimo de uma árvore, mas como quem persegue a respiração secreta da aurora. Cada degrau da tua presença é um convite ao desconhecido: a vertigem doce de me perder na altura onde o teu silêncio floresce. O ar que te envolve tem o perfume das promessas ainda intactas, como se cada folha fosse um sussurro guardado para os meus lábios. E quanto mais avanço, mais descubro que não é o destino que me chama, mas o percurso errante da tua essência, o labirinto de luz e sombra onde me perco para, em ti, me poder reencontrar.

Há um lume nas tuas manhãs que não se vê, apenas se sente: é claridade que se insinua, um calor secreto que desponta entre as frestas do dia. Subir os teus ramos e aproximar-me de ti é como encostar o ouvido à pele da terra e ouvir o rumor do coração escondido no mundo. E quando enfim chego à altura do teu olhar, não encontro o fim da subida, mas o início de uma outra ascensão. Porque em ti, não há cume nem fronteira: há sempre um horizonte que se estende mais além, uma chama que, mesmo quando se apaga, renasce sempre, mais alta, mais viva, mais pura. Sou viajante da tua íntima eternidade, e cada ramo que me sustenta é já um prolongamento do teu corpo invisível, esse corpo feito de memórias, de vento e de silêncio. Colher em ti o lume das manhãs é, afinal, acender-me mais uma vez – e deixar que, em ti, o mundo desperte de novo.

 


albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

SOU O TEU SEGREDO









Sou o teu segredo de todas as horas. Habito o intervalo entre o teu suspiro e o teu silêncio. Sou o pensamento escondido que se infiltra sem pedir licença, o fogo discreto, a febre em fúria que guardo em mim como quem carrega uma chama escondida no peito. Sou a lembrança quente que se acende no teu corpo quando a noite te envolve, o eco invisível que te percorre quando pensas estar só. Sou a vertigem que se instala nos teus gestos mais simples, transformando um olhar num desejo e uma palavra num longo sussurro. Sou o teu segredo quando o dia nos exige distância, mas também quando a noite, cúmplice, nos oferece amorosamente o seu manto. Não preciso de nome, quero apenas sentir o calor do teu corpo, a tua respiração pousada sobre mim e os meus braços envolvendo ternamente a tua cintura. Porque serei sempre a luz que te arde entre os lábios e o fogo infatigável que te consome por dentro. No tempo suspenso do nosso desejo, sou a chama que nunca se apaga, a presença que se deita contigo quando todo o mundo dorme. E quando na solidão dos teus lençóis, acreditas que ninguém te observa, sou eu quem desperta os teus desejos mais profundos. Sou a chama que se prolonga no teu ventre, o murmúrio que pede mais, o desejo que não se deixa calar. De todas as horas que passam pela noite, eu sou a mais íntima – aquela em que os teus olhos fechados revelam mais que qualquer palavra. Ali, sou o sol da tua noite, e tu és a minha eterna exaltação.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

A NASCENTE


Deve haver, algures, uma nascente escondida, uma fonte primordial onde brota a água que me percorre. Não sei onde nasce – se no fulgor do teu olhar, se no silêncio que se instala quando a tua boca adivinha a minha. Apenas sei que em ti tudo corre, tudo flui, tudo me alcança, como um rio que sempre encontra o caminho para o mar. És a nascente invisível que me surpreende no gesto mais simples: no modo como deslizas os dedos pelas tuas margens quando a noite se cobre de sedução. É aí que começa a corrente que me envolve e atravessa com as águas rugosas de Setembro. E eu, ao receber-te, torno-me num mar imenso, de águas claras a arder ao vento. Um mar que abre uma enseada para receber o curso rebelde e infatigável das tuas águas, e se deixa moldar pelo ímpeto da corrente. Sinto que és nascente e rio, vens de longe, de lugares que desconheço, e no entanto é em mim que desaguas, é em mim que repousas. Não importa onde começa a tua água, o que importa é que nela me reconheço, nela me recrio, e nela me perco para me encontrar. Não és apenas a água que se dissolve em mim e mata a minha sede, és também a sede que me estimula a vida. És o rumor incessante do rio que me atravessa, és o segredo eterno da longínqua nascente que não preciso ver para saber que existe – porque em cada gesto teu, o mundo inteiro começa a correr ternamente em mim.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

domingo, 31 de agosto de 2025

QUANDO ERA VERÃO NA TUA BOCA





 



Quando era Verão na tua boca, o meu nome era um barco. E eu o navegava, sem âncora nem porto, perdido e encontrado ao mesmo tempo. O calor do teu hálito era o vento que me impelia, e cada sílaba que me devolvias com os lábios era uma maré irresistível que me arrastava. Não havia um horizonte fixo, apenas a vertigem de seguir-te, de deixar-me levar pelo fluxo secreto que habitava entre a tua boca e a minha rota imaginada. E quando sorrias, o mundo inteiro incendiava-se de luz. Havia no teu sorriso aquele gesto de eternidade que só o mar conhece quando beija uma praia pela primeira vez. O meu corpo sem saber, foi-se ajustando às tuas correntes, e cada beijo teu era um novo litoral: uma enseada para o repouso, um rochedo para a vertigem, uma tempestade onde eu queria naufragar. Dentro de ti, a palavra “eu” deixava de fazer sentido. Tornava-se um pronome dissolvido, espuma breve no oceano da tua boca. Tu sabias devolver-me esse nome, mas nunca o dizias da mesma forma: Umas vezes um murmúrio quente, outras, um suspiro abafado, ou silêncio carregado de desejo. Era nesse jogo, nessa oscilação, que eu me descobria – não navegante, mas embarcação rendida, corpo entregue ao teu corpo. E cada beijo era muito mais que beijo. Os lábios tocavam-se e tudo o resto desaparecia – as ruas, o tempo, até o ar que respiravamos. Ficava apenas o rumor das ondas, o calor do Verão, a vertigem de estar em ti como quem mergulha sem voltar à superfície. Quando era Verão na tua boca, eu não era apenas um barco, era a própria viagem. E tu eras o mar inteiro, vasto e infinito, a chamar-me para sempre.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

NOITE


 

Toma-me noite.
Sem sombra de amargura, entrega-me ao teu silêncio profundo, como quem abre os braços para um mergulho inevitável. Serei a tua seiva secreta, dissolvendo-me em teus véus escuros, até que não reste de mim senão um sopro que te percorre. Deixa que me disperse em ti, como um punhado de estrelas que se desfaz no vento. Quero perder-me no calor da tua escuridão, sentir a tua respiração roçando a minha pele, e descobrir no fundo do teu corpo imenso a promessa de um repouso ardente. Não venho com luto, nem com a frieza dos que temem. Venho como quem deseja, como quem se entrega sem defesa. Em teu silêncio, encontro a música secreta que me chama. Em tua sombra, o contorno do que sou se expande como sede, e quanto mais me desfaço, mais me torno teu. Noite, toma-me. Faz de mim o rastro que se mistura ao teu fascínio. E que, disperso em ti, seja eu – paradoxalmente – mais teu do que nunca.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

terça-feira, 26 de agosto de 2025

SENTIR-TE EM MIM


Sentir-te em mim, terna e amante, é mais que sentir a tua presença – é um grito de silêncio e vertigem, um instante suspenso entre o que somos e o que sonhamos ser. Quando estás em mim, quando o teu corpo se rende ao meu com essa doçura quase luminosa, habito algo maior que o teu corpo: Uma constelação louca, acesa de desejo e ternura, que dança acima do tempo, onde o tempo jamais ousa entrar. Nessa órbita em que giramos, nos teus olhos doces e na tua pele macia como uma brisa quente, há uma luz por trás de toda a magia da noite que não vem do mundo, mas do amor. É o luar que beija nossos corpos por debaixo da noite, cúmplice do segredo que somos. E tudo em ti me chama: os teus silêncios falam a linguagem do desejo, os teus suspiros são mapas que sigo com os dedos acesos, trémulos de emoção. E tu, em mim, és muito mais que corpo – és abrigo, ternura, vértice do que é sagrado. És o murmúrio mais puro da noite, esse instante em que o mundo se recolhe e só restamos apenas nós dois. E quando te sinto assim – tão minha, tão presente como um perfume que nunca parte – compreendo que amar-te é habitar esse céu íntimo e subir os todos os degraus que nos conduzem à morada dos astros.



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor

domingo, 24 de agosto de 2025

SEDE



No verão, o mundo transpira desejos ocultos. O calor solta os aromas da terra, da pele, da fruta que se abre ao mais leve toque. E tu, és feita dessa mistura quente e provocante – o perfume da tarde na tua pele é uma vertigem que me leva a querer provar tudo, lentamente. Quando passas, trazes contigo esse cheiro doce, ácido, quase proibido – como o de uma laranja que se espreme devagar sobre a língua. E eu, sedento, deixo que esse aroma se cole em mim, como suor escorrendo sobre a pele. Há em ti um calor que não se vê, mas que se sente – entre o sussurro e o gesto, entre o olhar e a boca. A tua boca… tão fresca, tão molhada, cheia de promessas ditas em silêncio. É nela que a minha sede se faz fogo. Porque o que eu quero, não é só o gosto da tua saliva, mas a lentidão com que ela escorre quando os teus lábios se entreabrem, quando dizes o meu nome como se o provasses. Há uma sede que o verão desperta em nós – mas só tu sabes o sabor que a sacia. Quero-te com essa sede de fogo que nasce e morre na tua boca. E quando me aproximo com a sede gemendo na minha boca, eu sei que é na tua boca que me quero saciar. 



albino santos
* Reservados Todos os Direitos de Autor