Subo
por ti de ramo em ramo, não como quem procura o cimo de uma árvore, mas como
quem persegue a respiração secreta da aurora. Cada degrau da tua presença é um
convite ao desconhecido: a vertigem doce de me perder na altura onde o teu silêncio
floresce. O ar que te envolve tem o perfume das promessas ainda intactas, como
se cada folha fosse um sussurro guardado para os meus lábios. E quanto mais
avanço, mais descubro que não é o destino que me chama, mas o percurso errante da
tua essência, o labirinto de luz e sombra onde me perco para, em ti, me poder
reencontrar.
Há
um lume nas tuas manhãs que não se vê, apenas se sente: é claridade que se
insinua, um calor secreto que desponta entre as frestas do dia. Subir os teus
ramos e aproximar-me de ti é como encostar o ouvido à pele da terra e ouvir o
rumor do coração escondido no mundo. E quando enfim chego à altura do teu
olhar, não encontro o fim da subida, mas o início de uma outra ascensão. Porque
em ti, não há cume nem fronteira: há sempre um horizonte que se estende mais
além, uma chama que, mesmo quando se apaga, renasce sempre, mais alta, mais
viva, mais pura. Sou viajante da tua íntima eternidade, e cada ramo que me
sustenta é já um prolongamento do teu corpo invisível, esse corpo feito de memórias,
de vento e de silêncio. Colher em ti o lume das manhãs é, afinal, acender-me
mais uma vez – e deixar que, em ti, o mundo desperte de novo.
albino santos
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