Por vezes, na vida, não há alquimia, nem saber, nem esperança – apenas um patíbulo. A existência suspende-se na fragilidade de um fio, e o ar tem o peso do mundo. Tudo o que era sombrio torna-se cada dia mais denso, e os gestos, antes cheios de destino, agora vacilam, enquanto crescem dentes à noite solitária. Nessas horas, o coração é apenas uma pedra húmida e fria à beira do abismo, onde o vento vem confessar a sua própria solidão. Não há fórmulas que curem, nem preces que adiem o dever de cumprir-se a negra quietude das violetas. O tempo, esse velho carrasco, percorre o corredor do mundo sem pressa, deixando atrás de si o som lento das amarras invisíveis que acorrentam as palavras, o corpo, o desejo, o amor.
Ainda
assim, há um instante – breve, quase inaudível – em que a sombra se torna memória,
e a dor, claridade. No patíbulo de madeira gasta pelo tempo, nasce uma flor que
ninguém plantou. Talvez seja isso o que resta da alquimia: a certeza de que,
mesmo no limite da ausência, algo insiste em permanecer – uma centelha, um
rumor, um vestígio de eternidade a passear-se entre as ruínas. Porque mesmo
quando nada sobra senão a sombra do tempo, essa sombra ainda respira. E o que
respira, ainda vive.
albino santos
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