Busco
em ti o lado conjugal da noite – aquele que não se mostra aos olhos apressados,
mas que se revela na doce cumplicidade de um gesto lento. É na penumbra do teu
silêncio que encontro o abrigo para o meu cansaço, o colo onde a sombra se
deita sem medo, onde até o silêncio tem corpo e calor. Há em ti uma morada que
não tem paredes, mas pulsa por dentro como um coração apaixonado. É aí que me
recolho quando o mundo pesa, quando as horas arrastam correntes e a alma pede
descanso. Não falo de promessas nem rituais. Falo de um estar simples e
verdadeiro, como o céu que cobre o mar sem nada lhe pedir. És a noite em que me
desfaço das máscaras, onde me desnudo para que tudo seja ainda mais real. Cada
palavra que não dizes ecoa em mim como um verso antigo e cada suspiro teu é um
convite à entrega sem cláusulas, ao amor que não se pode mais conter. No nosso
peito, a noite é conjugal porque se partilha. Porque entre nós, a escuridão não
é ausência de luz, mas espaço para deixar brilhar o que é grande demais. E ali,
deitados no tempo, já não sou eu nem tu – somos apenas o mágico cansaço de uma
bela noite de amor.
albino santos
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